Curados na alma

Então disseram uns aos outros: — Não é certo o que estamos fazendo. Este dia é um dia de boas-novas, e nós nos calamos. Se esperarmos até a luz da manhã, seremos tidos por culpados. Vamos agora mesmo anunciar isto no palácio real. (2 Reis 7:9)

Samaria havia sido sitiada pelo exército sírio sob o comando de Ben-Hadad, e agora sofria com o bloqueio de entrada de mercadoria em seu território, e a consequente fome que se instalou e se generalizou por conta do cerco dos inimigos. A situação era tão cruel, que duas mulheres fizeram um acordo de comerem os próprios filhos para não morrerem, levando uma delas a cabo o combinado. Quando o rei ficou sabendo, rasgou suas vestes em sinal de indignação e perplexidade (2 Rs 6:26-30).

Diante da situação caótica pela qual atravessavam, surgem quatro personagens que fazem a diferença e são responsáveis diretamente pelo fim da degradação e sofrimento que aquele povo estava experimentando.

Os quatro homens que se destacam são leprosos, e como bem sabemos são excluídos do convívio social pela aplicação da lei que previa que eles fossem segregados e relegados a uma vida solitária, longe do cotidiano normal de qualquer ser humano. Fico imaginando as feridas emocionais que estavam abertas na alma deles, devido a indiferença e rejeição que constantemente sofriam por serem considerados inadequados e impróprios para o relacionamento em comunidade.

Mas aqueles homens que eram tidos como o dejeto da sociedade, tiveram uma atitude mais nobre do que muitos daqueles que se consideram sadios a teriam. Quando ficaram sabendo que a barra estava limpa no acampamento sírio, não se fecharam como forma de compensar os abusos que sofreram, antes, foram até aqueles que os haviam ferido e repartiram com eles a novidade que seria o ponto final no sofrimento de toda aquela população.

Eles demonstraram com sua atitude que estavam curados na alma, e que, aqueles que são considerados doentes aos olhos da maioria, muitas vezes são mais saudáveis pelo conteúdo de dignidade, coragem e solidariedade que carregam dentro de si. Isto nos ensina que Deus está buscando pessoas que não vivam em função de suas feridas emocionais, pessoas que queiram crescer em meio as crises e dores, pessoas que se disponham a serem instrumento de transformação para outros, mesmo se sentindo ou sendo considerados inaptas para tal.

É preciso ter coragem para romper as barreiras emocionais, e não ficar indiferente achando que não é problema nosso ser canal de restauração na vida até mesmo daqueles que foram responsáveis pelos nossos sofrimentos e frustrações. Não podemos permitir que as feridas que experimentamos e nos causaram aflições, nos tornem em “egoístas reclusos” que ficam lambendo suas próprias feridas. Precisamos romper com o orgulho ferido, e como bem disse Salomão "Não deixar de fazer o bem, estando na nossa mão o poder de fazê-lo” (Provérbios 3:27).

Deus te abençoe,

Franklin Rosa