Vaidade reversa
Vaidade de vaidades, diz o pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade. (Eclesiastes 1:2).
O excesso de humildade frequentemente revela uma vaidade
enrustida.
Há alguns anos atrás ouvi de uma pessoa o depoimento de que
existia em sua família uma pessoa tão despojada de glória pessoal que o mesmo
só lavava suas roupas com sabão neutro para não fixar o cheiro do perfume no
tecido. Como se não bastasse o indivíduo nem mesmo passava com ferro suas
vestimentas porque considerava vaidade qualquer coisa que contribuísse com sua
aparência ou projeção pessoal. De fato, algumas pessoas têm grande desconforto
com esse tema e quanto mais insiste na negação fazendo o jogo do "me
engana que eu gosto", mais fica evidenciada sua luta interior com esse sentimento.
Frases cantadas como “Eu não preciso ser reconhecido por
ninguém” / “A minha glória é fazer com que conheçam a Ti” / “E que diminua eu,
pra que Tu cresças, Senhor..”, que reverberam a experiência de João Batista, me
dá a impressão de que "tal louvor" é fruto do dissabor de alguma
experiência pessoal passada do "não reconhecimento" do compositor.
Quando uma pessoa insiste muito em se auto proclamar ou
passar a imagem de humilde, me leva a crer que ali está instalada uma grande
luta na alma. Na minha interpretação de observador leigo do comportamento
humano, isso se caracteriza como falsa humildade ou vaidade reversa.
O livro do Eclesiastes é a inquietação de quem vomita
filosoficamente toda sua insatisfação e amargura existencial em perceber-se inadequado
no confronto com a verdade interior. Salomão expõe todo seu mau humor na ótica
de quem identificou que absolutamente tudo é vão quando não se tem a inclinação
correta no coração.
A verdade é que não há problema algum com o reconhecimento
de algo que se destaque em nós. Na parábola dos talentos (Mt 25:14-30) fica
muito nítido isso quando a expressão "muito bem, servo bom e fiel", é
dita como forma de elogio e recompensa pelo dom e capacidades desempenhadas.
A própria Escritura Sagrada nos diz que receberemos galardão
(Hb 10:35 / Ap 22:12) que é o reconhecimento e/ou prêmio pelo nosso desempenho
espiritual. O grande problema é "viver em função" do reconhecimento
pessoal e não ter a motivação correta naquilo que se propõe a fazer.
Ademais, todo aquele que trabalha e planta o faz na
esperança de colher os frutos do seu esforço e capacidade. O reconhecimento do
esforço ou talento motiva e estimula ao desenvolvimento e a melhoria contínua,
já a falsa humildade, gera doenças na alma e desvios de comportamento do mesmo
jeito que acontece com aquele que vive buscando projeção como um fim em si
mesmo.
Deus te abençoe,
Franklin Rosa