O endiabramento do ser

Mas o publicano ficou à distância. Ele nem ousava olhar para o céu, mas batendo no peito, dizia: Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador. (Lucas 18:13)

Penso que como Igreja, com a prerrogativa e incumbência de anunciar a mensagem que reconcilia o ser humano com Deus, devamos urgentemente descer alguns degraus na nossa vaidosa e insuficiente espiritualidade, de acharmos que estamos um nível acima daqueles que não fazem parte do nosso rol de membros, ou daqueles que consideramos irrecuperáveis ou inadequados para participarem da mesma consciência de perdão da qual desfrutamos.

Digo isto, porque nós que deveríamos ser o refúgio daqueles que se sentem desprezados pelos olhares condenatórios da religião e da sociedade, somos não raras vezes, os que contribuem ainda mais para que essas pessoas se sintam desencorajadas a mudarem de vida.

A problemática do pecado não está pura e simplesmente na prática objetiva do erro, está também na presunção de nos considerarmos justos e acima da média como o fariseu orgulhoso da parábola, de acharmos que somos o que definitivamente não conseguimos sustentar pelos nossos próprios méritos.

Uma pessoa mergulhada no erro e que bate no peito como o publicano, tem maiores chances de se arrepender e encontrar-se com Deus, do que quem presume que a prestação de serviço religioso pode lhe creditar alguma vantagem. O dia que um indivíduo considerou que a prestação dos seus serviços poderia lhe conferir algum destaque em relação aos demais, tornou-se satanás.

O fato de sermos considerados filhos de Deus não é resultado de muita vigília, muita oração, muita contribuição financeira ou presença em cultos, é resultado de uma escolha unilateral do próprio Criador em nos encontrar, é resultado da graça que busca o publicano consciente da sua condição, e que escandaliza e ofende a falsa santidade daquele que confia em si mesmo, e que permitiu o “endiabramento” do ser.

Não estou com isso subestimando as consequências do pecado ou dizendo que não devamos tratar do tema, porque Paulo apóstolo disse que a fatura dele inevitavelmente é a morte. Estou propondo que nós como conhecedores do Evangelho, venhamos “baixar a bola” e nos colocar no nosso devido lugar que é de pecadores redimidos, que não possuem crédito algum acima de quem quer que seja, para justificar-se diante de Deus.

Quem sabe este exercício nos torne mais humildes, solidários e compassivos, permitindo com que Deus nos use...

Deus te abençoe,

Franklin Rosa