A dívida já foi perdoada


Então aquele servo, prostrando-se, o reverenciava, dizendo: Senhor, sê generoso para comigo, e tudo te pagarei. (Mateus 18:26)

O ser religioso tem intrínseco em si o sentimento de “compensação” na sua relação com Deus, pela dificuldade de entender a profundidade e generosidade do amor do Pai.

Essa deficiência em compreender a dimensão exata da bondade de Deus fica bem explícita na parábola contada por Jesus, quando o indivíduo decide agir com ética na relação credor/devedor porque ele não queria ficar refém de um “sentimento de dívida”.

Quando ele diz “e tudo te pagarei”, estava deixando absolutamente claro que não aceitava a ideia de receber algo que não tivesse um preço a ser pago, por isso, fazia questão de ressarcir (compensar) o seu senhor para que sua falsa liberdade e segurança interior fosse preservada.

O problema porém é que essa era uma tarefa impossível dele cumprir mesmo que trabalhasse durante toda a vida, devido a enorme dívida que agora generosamente estava sendo perdoada.

A ele cabia tão somente aceitar o fato, de que a dívida já não existia mais pela benevolência gratuita do seu senhor que não esperava nada em troca.

Entretanto, ele insiste numa ética que agora se torna patética diante da impossibilidade de querer compensar algo que ele não teria tempo hábil nem estrutura para tal.

A semelhança daquele servo nós também acionamos dentro de nós o mesmo dispositivo psicológico, quando queremos compensar Deus de alguma forma com bom comportamento ou ativismo religioso, achando com isso que iremos persuadi-lo a ser favorável todas as vezes que esse sentimento de dívida sequestrar nossos pensamentos.

Não digo com isto que devemos viver sem demonstrar gratidão a Deus, pois o que se espera de alguém que foi alcançado pela graça de Jesus é que, como bom servo desenvolva os talentos que seu Senhor tem lhe dado. Tampouco devemos nos comportar de qualquer maneira sem critérios nem parâmetros minimamente coerentes com a santidade do nosso Criador, pois como já sabemos também “o salário do pecado é a morte”.

A questão é que seria tão libertador se aceitássemos de vez a verdade de que “Graça” não se merece, simplesmente se recebe sem nenhuma possibilidade de câmbio/troca/barganha, embora Ele entenda nossa tentativa falida em querer compensá-lo com atos externos.

Essa é uma decisão unilateral do nosso Senhor que inviabiliza nosso orgulho de tentar pagá-lo, pois justamente aí reside o fato de que “DEUS É AMOR”.

A incoerência daquele servo fica nítida e estranhamente demonstrada, quando nos versículos posteriores do texto ele não usa da mesma benevolência recebida para com seu conservo, mostrando com isso que não tinha compreendido a grandeza do que havia recebido.

Portanto, Graças a Graça que é de Graça, nós só somos o que somos porque Deus É Quem É!

Deus te abençoe,

Franklin Rosa