Julgar ou não julgar?
Não julgueis, para que não sejais julgados. (Mateus 7:1)
Em nome da política da boa vizinhança, da isenção ou neutralidade, esse versículo tem sido interpretado de maneira inapropriada e divorciada de coragem profética.
Isolar um texto do seu contexto é um enorme dano não só para a teologia, como para as variadas demandas da vida que requerem uma apologia firme, densa e inegociável.
Assim deve ser nas questões que se referem à fé, bem como em todos os setores da sociedade que exijam um posicionamento claro daqueles que prezam minimamente pelo bom senso e boas práticas.
A importância e o dever de JULGAR (fazer distinção, exercer o senso crítico, analisar, examinar, discernir, apontar) entre o que é certo e errado tomando como base a Bíblia Sagrada como regra de fé e conduta para os que nela creem como Palavra de Deus, é amplamente sustentada nas Escrituras. Vamos citar apenas alguns exemplos:
“Dá, pois, a teu servo um coração entendido para JULGAR o teu povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal; porque, quem poderia JULGAR a este teu tão grande povo?” (1Rs 3:9)
“Quando chegar o tempo determinado, JULGAREI retamente” (Sl 75:2)
“Fazer justiça e JULGAR com retidão é mais aceitável ao Senhor do que oferecer-lhe sacrifício” (Pv 21:3)
“Não JULGUEIS pela aparência, mas JULGAI segundo o reto juízo” (Jo 7:24)
“E falem os profetas, dois ou três, e os outros JULGUEM” (1Co 14:29)
“Amados, não creiam em qualquer espírito, mas examinem (JULGUEM) os espíritos para ver se eles procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo” (1Jo 4:1)
Se o julgamento fosse proibido, seria anulado em sua totalidade o ministério dos juízes e profetas do Antigo Testamento, o ministério apostólico no Novo Testamento, bem como os discursos e preleções agudas e cortantes do Senhor Jesus que confrontava (julgava as intenções do coração) e levava a reflexão seus ouvintes, propondo mudança de mentalidade e de procedimento em suas relações em todas as esferas da vida.
O que o texto em destaque nos ensina nos versos subsequentes 2 ao 5, é que o mesmo critério com que julgamos os outros deve ser aplicado a nós mesmos, para que não estejamos incorrendo no mesmo erro que estamos apontando, ou em outros de mesmo peso moral fazendo do nosso julgamento mero moralismo hipócrita.
Ou seja, para que nós estejamos em condições de ajudar o outro a tirar o cisco do olho, nós mesmos não podemos ter nada grave que nos atrapalhe a enxergar com clareza (trave no olho) querendo observar na vida do próximo o que não estamos sendo capazes de observar na nossa própria vida.
Podemos e devemos julgar (fazer distinção, exercer o senso crítico, analisar, examinar, discernir, apontar) entre o certo e o errado segundo os parâmetros de princípios e valores do Evangelho, o que não podemos e nem devemos é CONDENAR nem privar quem quer que seja da oportunidade de arrependimento e perdão, pois esta é a razão de interpretar e julgar atitudes alheias instruindo a pessoa a corrigir a rota destrutiva na qual ela está caminhando.
Portanto, usar como desculpa o texto de Mateus 7 para não envolver-se em questões com as quais temos que nos posicionar, é optar pela zona de conforto, ou então, da fuga.
Deus te abençoe,
Franklin Rosa