Pregador do Evangelho ou coaching gospel?
Pregue a mensagem e insista em anunciá-la, seja no tempo
certo ou não. Procure convencer, repreenda, anime e ensine com toda a
paciência. Pois vai chegar o tempo em que as pessoas não vão dar atenção ao
verdadeiro ensinamento, mas seguirão os seus próprios desejos. E arranjarão
para si mesmas uma porção de mestres, que vão dizer a elas o que elas querem
ouvir. Essas pessoas deixarão de ouvir a verdade para dar atenção às lendas.
(1Tm 4:2-4 NVI)
Diante de Deus com todo temor, tremor, reverência, respeito
e reconhecimento do valor e importância de todos os profissionais que lidam com
as técnicas e ferramentas para desenvolver e estimular positivamente a psique
humana, é que faço minhas considerações a seguir.
Uma nova onda em recentes anos vem sutilmente substituindo
de forma ainda mais danosa, a famigerada teologia da prosperidade que já foi
ampla e bravamente confrontada por aqueles que prezam por uma teologia bíblica
e bem alicerçada na doutrina dos apóstolos (Atos 2:42).
Essa nova onda tem sido alcunhada por alguns como “teologia
do coaching”. É uma espécie de mensagem híbrida que tem no seu escopo a junção
do Evangelho com metodologias de PNL (Programação Neuro Linguística),
positivismo e/ou pregação motivacional.
Enquanto a teologia da prosperidade usa de forma escancarada como argumento de persuasão dos seus ouvintes a barganha com Deus para se obter sucesso financeiro, essa “nova onda” apela sutilmente para o direito a felicidade, o bem estar emocional e a realização egocêntrica do ser humano. O importante é ser feliz e alcançar resultados ou, seu “destino profético” como dizem os novos pregadores que mais se parecem com coaching gospel. É preciso pontuar aqui que o compromisso do Evangelho não é com felicidade, e sim, com a eternidade (Jo 3:16) (Jo 5:24) (Rm 6:23) (Rm 8:18) (2Co 4:17,18) (1Tm 6:12) (1Pe 5:10) (1Jo 2:17) (1Jo 5:11,13).
As preleções do "coaching gospel" são carregadas de frases de efeito e de superação
pessoal, sugestionamento psicológico, técnicas de reprogramação mental,
geralmente com um fundo musical etéreo com volume alternado para condicionar a
plateia numa frequência cognitiva passiva, a fim de treinar as pessoas a
otimizarem o “potencial adormecido” para que estas alcancem "resultados
extraordinários".
Três dos principais YouTubers e expoentes desta nova onda,
se utilizam destas técnicas e se justificam usando o argumento de que são
evangelistas e como tal a mensagem deles tem o propósito de atrair as pessoas e
anunciar o amor de Deus, por isso, não pregam os “espinhos” do Evangelho, mas
só oferecem as rosas.
Pelo que consta, nas Escrituras o amor de Deus não priva
quem quer que seja de ouvir a verdade ou de anunciar a verdade, pois é ela quem
liberta (João 8:32) (2Cr 7:14) (Is 1:16-20) (Jr 7:3-5). Pelo que consta, nas
Escrituras os 4 evangelistas registraram em seus textos não somente os
benefícios do Evangelho mas a responsabilidade e o nível de comprometimento com
a mensagem do Evangelho (Mt 8:19-22) (Mt 3:7-12) (Mt 5/6/7) (Mc 3:31-35) (Mc
8:34-38) (Mc 10:17-31) (Lc 3:7-14) (Lc 6:17-49) (Lc 14:26) (Jo 3:1-6) (Jo
6:60-61) (Jo 8:11), isto, só para embasar com alguns poucos exemplos sem citar
as cartas de Paulo, Pedro, Tiago, João, os profetas do AT, entre outros . A
verdade não raras vezes nos fere e nos confronta com a intenção de nos curar de
um mal maior. Quem ama, diz a verdade!
O pregador do Evangelho até pode diversificar a abordagem da
mensagem, mas jamais ser seletivo e relativizar, omitir e por fim sacrificar o
imperativo da Verdade, em busca de aceitação e popularidade (Mateus 3:1-12). A
falta de comprometimento do pregador em entregar a integralidade da Palavra de
Deus, fatalmente resultará em desonestidade e superficialidade.
Como já disse anteriormente, reconheço o valor e a seriedade dos profissionais e das técnicas que lidam com a psique humana para
proporcionar saúde mental e emocional, mas cada um no seu quadrado. Existem
setores da alma humana que somente o Evangelho tem o poder de penetrar, tratar,
curar e libertar (Hebreus 4:12). Aqueles que foram chamados para pregar o
Evangelho de forma alguma podem se deixar seduzir pelos holofotes e plateia da
teologia do coaching editando e recortando a mensagem original a seu bel prazer.
O nosso compromisso é com a verdade de Deus. A pregação não é uma terapia
coletiva em busca de resultados psicológicos ou sucesso financeiro. A mensagem
central e fundamental da pregação bíblica é: “ARREPENDEI-VOS, PORQUE É CHEGADO O
REINO DOS CÉUS” (Mateus 4:17).
Alguém poderia replicar: “Mas a Palavra de Deus não contém
uma mensagem motivadora com exemplos de superação pessoal?” Eu diria que sim,
mas isto está na periferia da mensagem cristã, pois, de Gênesis a Apocalipse a
mensagem central é que o ser humano é pecador e necessita de Cristo para sua
redenção. Um evangelista comprometido com o Evangelho, sempre irá anunciar todo
o conselho de Deus (Atos 20:27), e não somente o que lhe traz popularidade,
aceitação e benefícios oriundos de sua pregação. Muitos não conseguem lidar com
o confronto, porque são orientados somente pelos afagos do ego.
Paulo apóstolo nos alerta que chegaria um tempo em que as
pessoas não suportariam o confronto do Evangelho e buscariam para si mestres
que ensinassem o que fosse agradável de ouvir. As nossas Igrejas estão repletas
de pessoas que não se deixam corrigir e resistem à ação do Espírito Santo. É a
geração da pregação terapêutica que precisa sentir-se bem após uma mensagem.
Contraditoriamente a Palavra de Deus nos ensina que precisamos nos sentir mal,
digo isto, porque o anúncio do Evangelho deve nos incomodar de tal maneira nos
levando a entender nossa natureza pecaminosa e inadequação como merecedores da
graça de Deus (Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus – Romanos
3:23), nos preparando para a teologia da cruz: Então disse Jesus aos seus
discípulos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz,
e siga-me; pois, quem quiser salvar a sua vida por amor de mim perdê-la-á; mas
quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á. Pois que aproveita ao homem
se ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida? Ou que dará o homem em troca da
sua vida? (Mateus 16:24-26).
Enfatizo novamente, as metodologias e abordagens
terapêuticas ou motivacionais da psique podem e devem ser usadas, só não podem
ocupar o púlpito nem o espaço do culto cristão maquiadas de Evangelho. Para isto, existem os divãs,
auditórios e meios próprios para desenvolvimento destas técnicas. Se um cristão
deseja ser coaching em qualquer setor profissional, não há problema algum, só
não deve cair na tentação de querer melhorar a pregação usando estes
mecanismos, pois o Evangelho “... é o poder de Deus para a salvação de todo
aquele que crê...” (Romanos 1:16), necessitando somente da ação do Espírito
Santo para cumprir sua tarefa de iluminação e redenção espiritual.
Cabe aos que foram chamados para o ministério da Palavra, a coragem
e ousadia para obedecer e aplicar o conselho dos irmãos Judas e Paulo:
“Amados, embora estivesse muito ansioso por lhes escrever
acerca da salvação que compartilhamos, senti que era necessário escrever-lhes
insistindo que batalhassem pela fé uma vez por todas confiada aos santos.
Pois certos homens, cuja condenação já estava sentenciada há muito tempo,
infiltraram-se dissimuladamente no meio de vocês. Estes são ímpios, e
transformam a graça de nosso Deus em libertinagem e negam Jesus Cristo, nosso
único Soberano e Senhor” (Judas vs. 3,4).
“Cuidai, pois de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual
o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus,
que ele adquiriu com seu próprio sangue. Eu sei que depois da minha partida entrarão
no meio de vós lobos cruéis que não pouparão o rebanho, e que dentre vós mesmos
se levantarão homens, falando coisas perversas para atrair os discípulos após
si. Portanto vigiai, lembrando-vos de que por três anos não cessei
noite e dia de admoestar com lágrimas a cada um de vós” (Atos 20:28-31).
O julgamento que aqui é feito tem como alvo a mensagem e não
o mensageiro: “E falem os profetas, dois ou três, e os outros julguem” (1
Coríntios 14:29). A exposição que aqui faço é na condição de quem passou por um treinamento de coaching com PNL, e percebeu a tentativa de alguns pregadores de "misturar" o Evangelho com outros "ingredientes". A teologia antropocêntrica do coaching necessita ser exposta
e combatida através de uma apologia densa e inegociável, porque ela tira Deus
do centro e acende os holofotes sobre o ser humano que é “... inteiramente
inclinado para o mal desde a infância...” (Gênesis 8:21).
Concluo, afirmando que assim como inúmeras heresias
travestidas de Evangelho que vieram anteriormente, a teologia do coaching cedo
ou tarde também morrerá na praia, pois, foi Jesus mesmo quem disse: “Passará o
céu e a terra, mas as minhas palavras jamais passarão” (Mateus 24:35).
Deus te abençoe,
Franklin Rosa