Filhos da desconfiança
Disse Sarai a Abrão: Eis que o Senhor me tem impedido de ter filhos; toma, pois, a minha serva; porventura terei filhos por meio dela. E ouviu Abrão a voz de Sarai. Assim Sarai, mulher de Abrão, tomou a Agar a egípcia, sua serva, e a deu por mulher a Abrão seu marido, depois de Abrão ter habitado dez anos na terra de Canaã. E ele conheceu a Agar, e ela concebeu; e vendo ela que concebera, foi sua senhora desprezada aos seus olhos. (Gênesis 16:2-4)
Existe uma tensão permanente com a qual todo aquele que crê
em Deus comumente tem imensa dificuldade em lidar: Saber aguardar o tempo e a
forma com que Ele vai agir e interferir em nossa vida, fazendo com que Sua
promessa seja efetivamente concretizada na nossa realidade.
Frequentemente isso significa não saber quais os caminhos e como
Ele irá realizar o que prometeu, e quanto tempo levará todo processo que nos
conduzirá a alcançar o alvo da crença depositada Nele. É nesse momento, em que a fé entra em conflito
com a razão e nós começamos a fazer as contas se realmente vale a pena insistir
com sonhos, sobre os quais não temos mínimos sinais e garantias palpáveis de
que irão se realizar de fato.
O grande problema de interpretar a fé com as lentes da
racionalidade é querer assumir o controle da situação tomando decisões na
tentativa de ajudar ou ensinar a Deus como as coisas funcionam. Isso certamente
resultará em fracassos redundantes, e que necessariamente não precisaríamos
passar por eles.
Nessa fase de espera, a esperança e a perseverança
desempenham um papel fundamental para não atropelarmos o modo requintado de
Deus nos ensinar profundas e significativas lições, que só teremos condições de
aprender quando confiarmos inteiramente na fidelidade do Seu caráter, a
despeito de evidências.
À medida que nós amadurecemos e experimentamos a fidelidade
do Senhor nos descaminhos e aparentes contradições da fé, deveríamos desistir
de confiar em nós mesmos e colocarmos nossa vida sem reservas nas mãos
habilidosas de Deus. Entretanto, não foi desta maneira que as coisas
ocorreram naquela fase obscura da vida de Sarai e Abrão.
Em decorrência da ansiedade daquele casal, gerou-se o filho
da desconfiança que não estava no planejamento original. Essa precipitação veio
ocasionar posteriormente, inúmeras situações incômodas e desgastantes não
somente para Sarai e Abrão, mas principalmente para Agar e Ismael que sofreram
o ônus majoritário de uma decisão equivocada vs. 5-9.
Em 10 anos eles já haviam passado por diversas situações
dificultosas em que Deus mostrara todo seu cuidado e zelo para com eles
(Gênesis 12:10-20 / 13:1-18 / 14:12-24 / 15:1-21). A coisa mais sensata que
eles precisavam aprender agora era deixar Deus ser Deus como sempre!
Sarai tentou transferir o destrato que estava sofrendo
culpando e penalizando sua serva Agar, mas a grande responsável por todo aquele
constrangimento era ela mesma com o consentimento de Abrão que não resistiu à
pressão imposta por ela.
Semelhantemente a atitude do pai e da mãe da fé, filhos da
desconfiança continuam sendo gerados por todo o mundo como resultado desta tensão entre crer e se deixar consumir pelo processo da espera. Eles não são necessariamente fruto de uma relação sexual,
mas essencialmente resultado ou objeto de decisões impensadas e inconsequentes sem o
direcionamento de Deus, que acabam em situações opressivas e abusivas causando
feridas profundas na alma de todos os envolvidos.
Que Deus nos dê graça e discernimento, para não sermos nós
os que colherão os resultados danosos por decisões irrefletidas em consequência
desse desalinhamento insistente entre fé e dúvida.
Deus te abençoe,
Franklin Rosa