Façam isto em memória de Mim

Tomando o pão, deu graças, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: "Isto é o meu corpo dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim". Da mesma forma, depois da ceia, tomou o cálice, dizendo: "Este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vocês. (Lucas 22:19,20)

Se você estivesse próximo de morrer o quê faria? Fugiria, se esconderia ou organizaria um jantar VIP como fez o Senhor Jesus demonstrando amor e amizade pelos seus discípulos mesmo sabendo que pouco tempo depois seria traído, negado e abandonado pelos seus próprios convidados?

A mais significativa celebração de todos os tempos foi realizada de maneira simples, com pouca estrutura, sem recursos sofisticados, longe dos holofotes direcionados a celebridades e "caciques" da alta cúpula da sociedade religiosa em Jerusalém, mas com muita intensidade e intenção fraternal.

Jesus disse que desejou muito aquele momento antes que padecesse vs. 15, e por esta razão, disse a Pedro e João que se encarregassem dos preparativos para juntos comemorarem a páscoa, que seria um prelúdio do seu próprio sofrimento como Cordeiro de Deus sacrificado pela humanidade. Ele queria que seus amigos percebessem a importância que eles tinham para Ele naquela atmosfera de intenso amor, e entendessem o mais profundo significado da comunhão entre irmãos.

Ao contrário do que se pensa em alguns ambientes da religião, a celebração da ceia não tem o propósito de provocar catarse, êxtase ou comoção espiritual. Jesus queria que eles guardassem na memória as cenas boas daquela noite, demonstrando que a expressão mais linda do amor é a amizade gerada pelos vínculos da auto doação, que reparte a si mesmo antes repartir um mero pedaço de pão ou cálice de vinho.

A intenção não era para que eles participassem tão somente de um ato para recordar posteriormente seu sacrifício ainda que este desejo estivesse implícito, mas para que tivessem a mesma postura que Ele seguindo seu exemplo sacrificial, e assim se repartissem, se doassem e se entregassem voluntariamente uns aos outros ao preço da própria vida.

Paulo fazendo menção da última refeição do Senhor Jesus com seus discípulos por ocasião da páscoa, manifestou profunda insatisfação quando se referiu ao ajuntamento da Igreja em Corinto para celebrar a ceia de maneira incoerente (1Co 11:17-34). Ele disse que aquela reunião fazia mais mal do que bem, porque eles não discerniam que estavam praticando uma liturgia morta e carnal que não possuía empatia, e que não se solidarizava com os mais frágeis e de recursos limitados na comunidade.

A impressão que passa pela maneira veemente com que o apóstolo faz sua crítica, é de que a festa do ágape que precedia a celebração da ceia era uma reunião social orientada pelo desfile de egos, partidarismos e disputas internas pelo poder sem se importar com a condição e consciência dos irmãos mais simples.

Penso eu que quando Paulo afirma que era necessário um auto exame para participar da ceia, ele está apontando para a renovação do entendimento de que a mais emblemática experiência deste ato não é nos tornar merecedores de comer pão ou tomar um cálice de vinho para sermos salvos, pois sabemos que não há um justo sequer (Rm 3:10), mas creio que é um apelo a nossa consciência para que a gente aprenda prioritariamente a dar graças, repartir, compartilhar e nos doarmos inteiramente aos nossos irmãos.

A reflexão sobre o assunto me causa profundo constrangimento, e temo por mim mesmo e por outros tantos, que podemos estar participando da ceia sem o envolvimento com seu real significado e implicações, pois podemos estar praticando simplesmente um exercício religioso sem ter o espírito de devoção a Deus e consequentemente de doação ao próximo, que motivou Jesus a preparar aquele jantar. A ceia só é santa quando é um movimento de entrega ao outro!

Deus te abençoe,

Franklin Rosa