Ser nada para talvez ser alguém

E ouvindo isso os dez, indignaram-se contra os dois irmãos. (Mateus 20:24)

A disputa por status e vantagens não é somente exclusividade do mundo corporativo, ela está presente em todos os setores da sociedade, inclusive no ambiente religioso onde a política velada de interesses se apresenta com “ares” de piedade.

Jesus havia acabado de contar uma parábola ilustrando que no reino de Deus todos são nivelados pela graça e não pelo mérito, e arremata o assunto dizendo que últimos seriam os primeiros, e os primeiros seriam os últimos, e que não caberia qualquer sentimento de indignação vs. 1-16.

Existe uma grande possibilidade de que Jesus estava usando a parábola como alegoria para demonstrar a relação de Deus com os judeus que foram primeiramente escolhidos para fazerem parte do seu reino, mas que com a crucificação e consequente rejeição do Messias, possibilitaram com que este chamado fosse estendido aos gentios que mesmo tardiamente aceitaram prontamente o convite para “tomar parte na vinha”.

Mesmo ouvindo uma pregação tão clara a respeito da igualdade e da soberania eletiva de Deus, a dificuldade em entender ou aceitar a mensagem fez com que a mãe de Tiago e João juntamente com eles, se arriscassem a tentar um lugar privilegiado e diferenciado dos demais discípulos no reino vindouro e promissor de Jesus vs. 20,21.

Esse pedido descabido gerou uma forte e generalizada irritação desencadeando uma celeuma entre eles, que só pôde ser resolvida quando Jesus os chama para uma conversa no privado e reitera que quem quisesse “ser alguma coisa”, teria antes que aceitar o fato de “ser ninguém” vs. 25-28.

O que ocorre é que a insatisfação dos 10 discípulos que se sentiram usurpados pela petição audaciosa da mãe dos filhos de Zebedeu, era na verdade motivada pela inveja, pois afinal, todos eles aspiravam um cargo de destaque que na mentalidade deles agregaria privilégios transitórios e terrenos, dado a esperança de um Messias político que os libertaria do jugo romano.

Jesus então diz que a concessão de atributos para aqueles que quiserem se destacar no seu reino é o sofrimento seguido de morte vs. 22,23, bem como, a disposição de ser instrumento de edificação e construção de coisas boas na vida do outro, antes de ser objeto de honrarias vs. 26-28, ou seja, ser nada para talvez ser alguém.

Quando realmente tivermos consciência do significado dos versos 22 ao 28 que propõem o despojamento do ego, a disputa pelo poder e o desejo de aparecer acabam.  

Deus te abençoe,

Franklin Rosa