Pedir, buscar e bater

Pedi e vos será dado; buscai e encontrareis; batei e a porta vos será aberta. Pois aquele que pede recebe; o que busca encontra; e ao que bate se abre (Mt 7:7,8).

Frequentemente nós interpretamos essa frase do Senhor Jesus numa ótica puramente egoísta, pragmática e utilitária, pensando tão somente que encontramos o caminho para que nossas orações sejam ouvidas e nossas necessidades sejam supridas.

Nos iludimos achando que descobrimos a fórmula para que Deus responda nossas orações de forma indiscriminada (Tg 4:3), ou pior, acreditamos que este é um método infalível de convencer ou pressionar Deus a atender nossas petições, afinal, está dito que se pedirmos receberemos, se buscarmos acharemos, e se batermos a porta se abrirá. Mas será que o texto se resume apenas a essa tentativa humana de querer controlar, ou acessar o mundo espiritual em favor próprio?

Não nego que as palavras do Nosso Senhor se referem primariamente a relação “resposta de oração às necessidades básicas da vida” (Mt 6:25-34 / 7:9-11). O ato de pedir significa reconhecer a dependência de outro, o que em nosso caso trata-se especificamente da dependência de Deus. Quando estamos na condição de “pedintes” nos humilhamos despojando-nos da auto-suficiência, e da presunção de termos todas as respostas para os dilemas que enfrentamos.

Feito essas observações nós temos que ter em mente que estes versos fazem parte de um contexto mais amplo que ocupam três capítulos do texto que conhecemos como sermão da montanha onde Jesus já havia abordado sobre o tema oração, por esta razão, não podemos simplesmente isolar ele sem considerar o todo do discurso proferido.

Com base nesses argumentos, gostaria de propor que olhássemos para esse ensinamento do Senhor Jesus em uma outra perspectiva menos antropocêntrica, e motivá-los a resignificar ou ampliar o conceito do tema na contramão do que usualmente se entende e se pratica como oração.

Vamos destacar os três verbos da frase dita pelo Senhor, e fazer algumas considerações:

1. PEDIR – até que a vontade de Deus se cumpra de forma plena.

* (Mt 6:10) “Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”.

a. A única “ansiedade” que deveríamos sofrer como servos de Deus, é o desejo de que assim como a vontade D’Ele é plena no céu, que ela seja em breve plena na terra também com o advento da sua segunda vinda em glória (Ap 1:7), para o estabelecimento do seu Reino eterno.

b. Penso que a palavra “Maranata” (Ap 22:17) deveria estar presente em todas as intenções de oração, demonstrando que o nosso maior anseio é a vida plena no Reino do Rei Jesus.

2. BUSCAR – os interesses de Deus acima dos nossos próprios interesses.

* (Mt 6:33) “Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça”.

* (Mt 5:6) “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça”.

a. Buscar o reino e ter fome de justiça, é deixar-se governar ou conduzir pelos princípios e valores do Rei Jesus. Podemos definir da seguinte forma:

 É ter a postura de retidão moral como cidadão do Reino sendo justo e santo em nosso caráter e todo procedimento perante Deus e os homens (Cl 3:17,23,24) (1Pe 1:15).

 É empenhar-se para que a justiça do Reino de Deus alcance e transforme as estruturas da sociedade para que elas sejam menos desiguais, como forma de gratidão e amor a Deus e ao próximo (Mt 25:35,36) (Tg 1:27 / 2:1-9,15-18).

3. BATER – na expectativa de entrar na intimidade de Deus.

* (Mt 6:6) “Mas tu, quando orares, entra no teu quarto e, fechando a porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará”.

* (Ap 3:20) “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo”.

* (Ct 1:4) “Leve-me com você! Vamos depressa! Seja o meu rei e leve-me para o seu quarto”.

a. Quando amamos alguém de fato, inevitavelmente queremos estar junto. Não basta apenas a “virtualização” da relação como se tornou comum em nossa época, há uma necessidade do “olho no olho”, do “face to face”.

b. Aqueles que amam ao Senhor de todo coração, de toda alma, de todas as forças e de todo entendimento (Dt 6:5) (Lc 10:27), sentem a necessidade de buscar constantemente a Sua face em comunhão e adoração.

c. A recompensa de quem é íntimo do Rei Jesus, é a oportunidade de desfrutar da Sua amizade e da doce presença do Seu Espírito que proporciona refrigério, renovação e gozo imensurável.

Concluindo, mais do que um mecanismo para “destravar” o mundo espiritual como afirmam os novos mestres da “teologia neurolinguística da felicidade”, a oração tem como objetivo essencial comungar com o coração do Nosso Pai celestial, para que o nosso coração seja alinhado e submetido aos planos, desejos e sentimentos D’Ele.

 

Deus te abençoe,

Franklin Rosa