Uma Igreja na U.T.I.


Texto: Apocalipse 3:14-22

“Conheço as suas obras, sei que você não é frio nem quente. Melhor seria que você fosse frio ou quente! Assim, porque você é morno, nem frio nem quente, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca. Você diz: Estou rico, adquiri riquezas e não preciso de nada. Não reconhece, porém, que é miserável, digno de compaixão, pobre, cego e que está nu”.

Tema: Uma Igreja na U.T.I.

Introdução: Antes de tudo, é importante entendermos o contexto histórico de Laodicéia. Esta era uma cidade próspera e rica, conhecida por suas águas termais terapêuticas, por sua indústria têxtil, e pela medicina avançada para época. No entanto, havia um quadro clínico espiritual grave naquela Igreja, que estava adoecida pelo modelo operante da cidade onde estava instalada: a indiferença espiritual.

b. Apesar da carta estar sendo endereçada especificamente ao anjo da Igreja, que segundo o entendimento de grande parte dos comentaristas refere-se ao líder, ou ao pastor daquela comunidade local, esta é uma contundente advertência para todos os crentes que ali congregavam, e por conseguinte, estende-se também como alerta para todos nós que fazemos parte do corpo de Cristo, para não incorrermos no mesmo erro daqueles irmãos.

c. O ocorrido com a Igreja em Laodicéia não está nem um pouco distante da nossa realidade. Infelizmente, muitos de nós também estamos com a saúde espiritual debilitada e a beira de um colapso, acometidos pela mesma doença que os crentes daquela comunidade estavam. Podemos até estar representando bem um papel religioso, mas o nosso coração está totalmente longe de Deus. Isso acontece na maioria das vezes porque a semelhança da Igreja em Laodicéia, permitimos que as preocupações do mundo e os prazeres passageiros nos afastem de um relacionamento mais profundo e saudável com o Senhor.

d. Vamos analisar seis aspectos importantes dessa passagem, e fazer algumas considerações com base neles:

1. O olhar clínico e cirúrgico de Jesus vs. 15a

* Não há nada que fique em oculto diante de Deus. Ele conhece todas as coisas, inclusive nossos pensamentos mais íntimos e nossas ações mais secretas. Portanto, não podemos nos enganar pensando que estamos escondendo algo D’Ele (Hb 4:13). A expressão “conheço as suas obras”, deve nos fazer pausar e refletir profundamente sobre como anda a nossa vida espiritual. O Senhor conhece cada um de nós detalhadamente. Seu olhar penetrante não contempla apenas as nossas palavras ou aparência, mas sonda os nossos corações e conhece as nossas intenções mais bem disfarçadas de piedade. Diante disso, precisamos perguntar a nós mesmos com a seriedade com que o assunto merece: O que o Senhor Jesus diria sobre as nossas obras? Estamos vivendo uma vida que o agrada?

2. O terrível diagnóstico da Igreja vs. 15b-17

* O Senhor Jesus usa uma expressão constrangedora para descrever aquela Igreja: "nem fria nem quente" vs. 15. Essa mornidão espiritual é preocupante porque indica indiferença, falta de fervor e compromisso (Mt 24:12). A Igreja de Laodicéia se enxergava como rica e auto-suficiente, mas Jesus a repreende revelando que na verdade ela carecia de pena vs. 17. A indiferença e auto-suficiência é uma condição perigosa que pode nos fazer acreditar que não precisamos de nada, quando na realidade precisamos desesperadamente de Cristo. Quando somos mornos corremos o risco de nos distanciar cada vez mais de Deus. Podemos até mesmo frequentar regularmente reuniões de oração e ensino bíblico, mas tudo não passa de religiosidade sem vida, pura performance para satisfazer o status diante da comunidade e da sociedade.

3. O método de tratamento intensivo vs. 18-19

* Diferente de nós que somos condescendentes com o erro, Jesus demonstra seu amor através da repreensão e exige o arrependimento para que todos se voltem para Ele e sejam curados (Pv 3:11,12). O conselho é que comprem ouro refinado no fogo, frequentemente associado na Bíblia como um símbolo da fé provada e purificada. Jesus também aconselha a Igreja a cobrir-se com vestes brancas (símbolo de santidade) para que sua vergonhosa nudez espiritual não seja exposta. O tratamento requer também colírio, simbolizando a necessidade de discernimento espiritual para ter uma visão clara da vontade de Deus, para corrigir a rota e continuar seguindo em seus caminhos. Todas essas recomendações tem de ser observadas com zelo perseverante para que o tratamento seja de fato efetivo.

4. O convite terapêutico a comunhão vs. 20

* Jesus faz um convite comovente para termos intimidade com Ele. Isso revela o desejo de Cristo de ter comunhão conosco mesmo quando pecamos e nos afastamos da sua presença. Ele está pronto para entrar em nossas vidas, nos curar e abençoar. Tudo o que precisamos fazer é ouvir sua doce voz e abrir a porta do nosso coração, para que sejamos completamente sarados e restaurados pela sua abundante graça e misericórdia. Precisamos desacelerar um pouco da corrida da vida, e voltarmos ao fervor da intimidade devocional. As preocupações do dia a dia e o desejo desenfreado por sucesso e prazer adoecem a nossa alma. A agitação nos priva da comunhão terapêutica com o nosso Senhor, que deseja aliviar as nossas cargas emocionais e espirituais renovando nossas forças (Mt 11:28-30).

5. A recompensa pós tratamento intensivo vs. 21

* Para aqueles que se submeterem humildemente ao tratamento indicado por Jesus, e superarem o desafio de não permitir que as demandas deste mundo adoeça sua alma, Ele promete uma recompensa gloriosa e eterna. Aos que vencerem a indiferença e auto-suficiência espiritual sendo fiéis a Jesus, estarão aptos a compartilhar da sua glória e autoridade. Isso é simbolizado pelo ato de sentar-se com Ele em Seu trono. É uma representação da comunhão e da participação nos privilégios espirituais e reais que Jesus tem como o Rei dos reis e Senhor dos senhores. Ele venceu e sentou-se com seu Pai no seu trono, indicando que N’Ele podemos ser vencedores também. A recompensa da fidelidade supera qualquer coisa que possamos perder neste mundo (1Jo 2:15-17).

6. O último apelo para a cura e avivamento espiritual vs. 22

* Jesus conclui a carta com um último apelo, mas agora para a cura da surdez espiritual. Este é um desafio para sairmos da zona de conforto e prestarmos total atenção a sua Palavra. Ele está nos chamando para ouvirmos sua poderosa voz e obedecermos sem qualquer tipo de dúvida ou resistência. Não importa o quão rica ou confortável seja nossa situação material, Ele está nos advertindo para sermos fervorosos em nosso amor e compromisso com Ele. O fracasso de um crente começa quando ele deixa de escutar a voz do Espírito Santo, para dar ouvidos às vozes confusas e enganosas deste mundo caído. Devemos responder a esse apelo buscando diligentemente fazer a Sua vontade com arrependimento contínuo, e uma vida comprometida com seu Reino e sua justiça (Mt 6:33).

Conclusão: Essa passagem deve nos acordar para a realidade de nossa própria condição espiritual. Deus não quer que sejamos apenas "religiosos" ou "cristãos de fachada". Ele deseja uma comunhão genuína e profunda conosco. Não podemos nos dar por satisfeitos simplesmente por frequentar uma instituição religiosa, é necessário vida de intimidade com Deus. Precisamos nos arrepender da nossa apatia e indolência espiritual, e voltarmos ao primeiro amor e a prática das primeiras obras para que não venhamos perder o privilégio e a benção que o Senhor comunicou a nós como Igreja (Ap 2:4,5).

 

Deus te abençoe,

Franklin Rosa