Jesus, O Maior Líder Que Já Existiu
Logo na nota de introdução, Laurie Beth Jones (a autora) já faz algumas revelações perigosas que comprometem uma leitura minimamente razoável para quem quer se valer da Bíblia Sagrada para expor suas ideias. Eis as declarações:
►“Nem sempre uso o texto exato, literal, original das Escrituras como referência...” – ou seja, ela gosta de margem para embutir ideias próprias.
► “Na verdade, fui relutante em citar os capítulos e versículos, pois muita gente transforma as citações bíblicas em verdades absolutas.” – ou seja, ela relativiza as Escrituras, mas usa como referência a seu bel-prazer.
► “... embora acredite que Deus seja feminino e masculino (ôpa, perigo à vista!), resolvi não usar o tratamento “Ela”... isso poderia colocar esta obra além dos limites de aceitação...” – ou seja, sua teologia é inspirada em Pepeu Gomes (risos).
No final do livro, nas páginas 139 a 148, a autora sugere uma série de afirmações para os líderes, que nada mais são do que frases de efeito recheadas de técnicas de neurolinguística.
Postas estas observações, vamos para a análise teológica do livro:
1. Redução de Jesus a um modelo
de liderança secular
Um dos principais
problemas teológicos com o livro é que ele reduz a identidade do Senhor Jesus
Cristo, que na teologia cristã evangélica é visto como o Filho de Deus, Redentor
e Senhor de toda a criação, a um simples modelo de liderança. Embora Jesus
tenha sido, de fato, um líder, Sua missão na Terra foi muito mais profunda,
centrando-se na redenção da humanidade do pecado e na reconciliação dos homens
com Deus. Reduzir Jesus a um "maior líder" pode ser visto como uma
forma de idolatria (o padroeiro dos empresários, gestores, marqueteiros, e
similares), ao priorizar Seu papel de liderança sobre Sua identidade como
Salvador e Senhor. Essa abordagem traz à tona uma heresia muito antiga
relacionada à humanidade de Cristo, negligenciando Sua divindade.
2. Foco na autoajuda e sucesso pessoal
O livro se concentra em
princípios de autoajuda e sucesso pessoal, adaptando os ensinamentos de Jesus
para um contexto meramente corporativo e de negócios. A teologia cristã
evangélica enfatiza que a vida cristã é marcada pela obediência a Deus, pela negação
de si mesmo e pela santificação, não pelo sucesso material ou por alcançar metas
mundanas. A ênfase em expertise, técnicas de liderança e sucesso, sem uma base
sólida na doutrina da graça e da soberania de Deus, pode levar a um evangelho
antropocêntrico - diluído e centrado no homem. Esse foco sugere que o homem
pode, por sua própria força, alcançar sucesso e realização sem a necessidade da
graça de Deus.
3. Distanciamento da soteriologia
cristã
Laurie Beth Jones não
aborda em momento algum a teologia da soteriologia — doutrina da salvação —
central para a fé cristã. Em vez disso, ela destaca princípios de liderança que
podem ser aplicados por qualquer pessoa, independentemente de sua fé em Cristo.
Ao fazer esse tipo de abordagem, a autora minimiza o papel da fé e da redenção,
que são centrais no cristianismo. A minimização ou omissão da necessidade de
arrependimento, fé e obediência para a salvação deixa claro que o exemplo moral
de Jesus é pragmático e suficiente, sem a necessidade de fé em Sua obra
redentora e obediência aos Seus princípios e valores para desfrutar de Suas
bênçãos e da eternidade.
4. Uso de Jesus como ferramenta
de marketing
O livro utiliza a
figura de Jesus para promover conceitos de marketing, vendas e gestão,
adaptando Suas palavras e ações para contextos que servem mais aos interesses
do mundo dos negócios do que à missão do Reino de Deus. Isso nada mais é que a
instrumentalização de Jesus para fins terrenos. Transformar a mensagem e a
pessoa de Jesus em uma ferramenta para alcançar sucesso material deve ser
interpretado como “comercialização da fé”, uma prática que pode também ter
implicações por violar o terceiro mandamento, ao transformar Jesus em um meio
para um fim secular tomando Seu Nome em vão. Essa é uma filosofia maquiavélica em
que os fins justificam os meios! Em outras palavras, é o Jesus que dá certo, independente
se está certo.
5. Falta de fundamento bíblico e
doutrinário
A interpretação dos
ensinamentos de Jesus no livro muitas vezes carece de fundamentação bíblica
sólida e, em vez disso, é moldada para se adequar a conceitos modernos de liderança.
Na teologia cristã evangélica, a Bíblia é a autoridade final em todas as questões
de fé e prática. Qualquer ensinamento que não seja profundamente enraizado nas
Escrituras e que as use apenas como uma ferramenta para reforçar ideias seculares
é um desvio perigoso e seu fim já foi profetizado na carta de Judas, como
mencionado no início dessa análise. Esse é o tipo de “modernismo ou liberalismo
teológico”, onde a mensagem bíblica é reinterpretada para se conformar às
ideias e valores contemporâneos, ao invés de ser interpretada de acordo com os
ensinos apostólicos e a tradição histórica da Igreja.
Considerações Finais
Embora o livro possa
oferecer frases de efeito e até mesmo insights úteis para líderes em um
contexto secular, ele falha em apresentar uma visão teologicamente robusta e
fiel de Jesus Cristo conforme ensinado pela teologia cristã evangélica
tradicional. A redução de Jesus a um mero modelo de liderança, a falta de
ênfase na obra redentora de Cristo, e a adaptação de Sua mensagem para servir aos
interesses do mundo dos negócios são preocupações sérias que podem ser
classificadas como heresias e desvios doutrinários gravíssimos. É essencial que
os cristãos evangélicos avaliem tais obras com discernimento, à luz das
Escrituras e da tradição teológica da Igreja, para evitar cair em erros que
possam comprometer a fé e a prática cristã genuína.
Aos fãs da teologia
coach, keep calm nessa hora!
Aos comprometidos com o
Reino de Deus e Sua justiça, não baixem a guarda!
Franklin Rosa