Natal: O céu desceu e tabernaculou entre nós
"E
o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória
do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade." (João 1:14)
O
Verbo se fez carne para que a eternidade tocasse o finito, e a graça habitasse
entre nós.
Quando criança, o
Natal era, para mim, uma época de grandes expectativas. Eu aguardava
ansiosamente pelos presentes e pela alegria de ver a família reunida. Mas foi
apenas mais tarde, quando conheci o Evangelho, que compreendi o verdadeiro sentido
do Natal. A pessoa mais importante e o presente mais precioso não cabia em
caixas enfeitadas, mas veio ao mundo em uma manjedoura.
A simplicidade do nascimento de
Cristo, a forma como o Verbo se fez carne, carrega consigo uma profundidade que
ultrapassa o entendimento humano. O Criador do universo, o Deus que habita em
luz inacessível, escolheu descer e habitar entre nós. Essa frase simples, “o
Verbo se fez carne”, resume a realidade mais extraordinária da história: Deus
não permaneceu distante, mas entrou na nossa fragilidade, assumindo a forma
humana com todas as suas limitações.
Na época do Império Romano, a
ideia de um Deus encarnado era estranha tanto para judeus quanto para gentios.
Para os judeus, acostumados à transcendência de Javé, a ideia de que o Santo de
Israel se tornaria carne era praticamente blasfema. Já para os gentios,
influenciados por correntes filosóficas, a matéria era vista como corrupta, e a
ideia de que uma divindade se rebaixaria a isso era inconcebível. No entanto, o
apóstolo João, ao escrever sob a inspiração do Espírito Santo, afirma que o
Verbo eterno — aquele que estava com Deus e que era Deus desde o princípio — se
tornou carne.
O termo "Verbo" (ou
"Logos" no grego) é riquíssimo em significado. Para os leitores de
João, o Logos era o princípio racional que governava o cosmos. No entanto, João
toma esse conceito filosófico e o reveste de uma verdade divina mais profunda:
o Logos não é apenas uma força impessoal, mas uma pessoa — Jesus Cristo, a
expressão completa e final de Deus. O Verbo se fez carne no sentido literal e
tangível. Deus, em sua imensidão, limitou-se a um corpo, a uma época, a uma
cultura. Quando
o Verbo se fez carne, o céu encontrou um lar na terra.
E Ele "habitou entre
nós". A palavra usada para "habitar" no original grego significa
"armar sua tenda" ou "tabernacular". Esse verbo nos remete
ao Antigo Testamento, ao Tabernáculo que Moisés erigiu no deserto, onde a
presença de Deus habitava no meio do povo. Agora, porém, João diz que essa
habitação de Deus não era mais em um espaço físico feito por mãos humanas, mas
em Jesus, o Deus encarnado, aquele que veio morar entre os homens de forma
plena e pessoal. Assim como o Tabernáculo no deserto indicava a presença de
Deus com Israel, agora Jesus, o novo Tabernáculo, é a presença divina entre a
humanidade.
Não podemos deixar de nos
maravilhar com o verdadeiro significado do natal: O Verbo se fez carne! O Natal
não é simplesmente o nascimento de uma criança; é o momento em que Deus invade
a história humana de uma forma sem precedentes. “E vimos a sua glória”, diz
João. Essa glória, embora velada na humildade de uma manjedoura e na
fragilidade de uma vida humana, é a glória do unigênito do Pai. Aquele que foi
gerado antes de todos os tempos, que compartilha da mesma essência divina,
agora caminha entre nós. O
Deus que criou o cosmos escolheu um corpo humano para caminhar conosco.
Todavia, essa glória não é como a
glória que os homens buscam. Não é uma glória de poder, riquezas ou dominação,
mas uma glória cheia de graça e de verdade. A graça, um favor imerecido, e a
verdade, a revelação plena do caráter de Deus, estão ambas traduzidas na pessoa
de Cristo. Quando observarmos sua vida, vemos um Deus que não somente revela
quem Ele é, mas também estende Sua mão de misericórdia à humanidade caída.
O Natal nos relembra que Deus se
fez carne para nos salvar. Ele não veio em glória triunfante, mas em humildade,
para mostrar que a verdadeira glória está em servir, em amar, em ser cheio de
graça e de verdade. Como Isaías já havia profetizado séculos antes, o Messias
seria aquele que não teria beleza exterior que nos atraísse, mas dentro d’Ele
estaria a plenitude da divindade, a própria fonte de vida e luz (Isaías 9:2;
53:2-3).
Que neste Natal nós tenhamos
discernimento e sensibilidade para enxergar além do óbvio, além do comercial e
superficial, reconhecendo o extraordinário nas formas simples e humildes, e nos
encantar com a verdade de que a glória de Deus se manifestou paradoxalmente no
Verbo que se fez carne!
Feliz Natal!
Franklin Rosa
Bibliografia:
Dicionário VINE – W.E. Vine: Significado exegético e expositivo de palavras e termos teológicos do Antigo e do Novo Testamento
Bíblia de Estudo Thompson – Frank Charles
Thompson: Cadeia temática de referências cruzadas