Eu creio em Deus, mas... não creio que a Bíblia seja sua Palavra

“As tuas palavras são em tudo verdade desde o princípio, e cada um dos teus justos juízos dura para sempre" – Salmo 119:160

A questão que estou colocando agora é, de certa forma, uma continuação do que já tratei no texto anterior. Assim como alguém pode dizer: "Eu creio em Jesus, mas não o da Bíblia", argumentando que o Jesus apresentado nas Escrituras é uma construção humana, a mesma lógica pode ser aplicada à Bíblia como Palavra de Deus. Em ambos os casos, a questão central não é apenas discutir a humanidade do homem como instrumento para escrever a Bíblia ou do Jesus revelado nela, mas compreender como a revelação de Deus, mesmo expressa por meio de seres humanos, é considerada fiel e autoritativa para aqueles que creem.

O fato da Bíblia ter sido escrita por seres humanos não diminui sua importância ou veracidade. A própria Escritura reconhece a humanidade de seus autores, mas afirma claramente que a inspiração divina garante a mensagem que ela transmite. Em 2 Timóteo 3:16, por exemplo, está escrito: "Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a educação na justiça". Isso significa que, embora os homens tenham sido os meios pelos quais a Bíblia foi escrita, sua origem última é divina. Deus, na Sua soberania, escolheu utilizar pessoas como instrumento para transmitir Sua palavra de uma forma que fosse acessível ao ser humano.

Quando alguém afirma que a Bíblia está cheia de erros, é possível que a pessoa esteja se referindo a aparentes contradições ou discrepâncias entre diferentes passagens. No entanto, quando lemos as Escrituras em seu devido contexto e considerando os diferentes estilos literários (como poesia, profecia, narrativa histórica, códigos de lei, parábolas, epístolas e apocalipse), muitas dessas dificuldades podem ser resolvidas. Por exemplo, Jesus, em várias de suas parábolas, usou figuras e ilustrações que não necessariamente precisavam ser lidas de forma literal para transmitir a verdade profunda e eterna Mateus 7:13-14; 13:1-23; 24-30; 31-32; Lucas 10:25-37. A alegação de erro muitas vezes surge de uma leitura superficial, sem levar em conta o contexto histórico, cultural e literário dos textos bíblicos.

Em 2 Pedro 1:21, lemos: "Pois a profecia nunca teve origem na vontade humana, mas os homens falaram da parte de Deus, sendo impelidos pelo Espírito Santo". Este versículo afirma que, embora os autores tenham sido homens, eles escreveram sob a orientação direta do Espírito Santo. Isso implica que a Bíblia, enquanto produto da intervenção humana, não perde sua autoridade divina, pois Deus guiou os escritores de forma a assegurar que Sua mensagem fosse transmitida com precisão. Isso não significa que cada palavra seja uma simples transcrição do que Deus disse para o papel (pergaminho), mas que, através do processo de composição, Deus se comunicou com a humanidade de maneira diversificada, clara e eficaz.

Quando falamos de "erros" na Bíblia, devemos também considerar o que a Bíblia afirma sobre a sua própria confiabilidade. Em Salmo 19:7, lemos: "A lei do Senhor é perfeita, que restaura a alma; o testemunho do Senhor é fiel, que dá sabedoria aos simples". Aqui, a perfeição e fidelidade da Palavra de Deus são colocadas em destaque. Essa perfeição, no entanto, não se refere a uma perfeição literal e absoluta em todos os detalhes da forma como os textos foram transcritos ao longo dos séculos, mas sim à perfeição da mensagem que Deus queria comunicar ao Seu povo. Mesmo quando surgem dificuldades de interpretação, a essência da mensagem bíblica – sobre amor, perdão, justiça e redenção – permanece clara, poderosa e inigualável.

É importante ressaltar aqui também que a doutrina da inerrância aplica-se aos manuscritos originais das Escrituras. À medida que a Bíblia foi copiada ao longo dos séculos, pequenos erros de transcrição podem ter surgido, mas esses não comprometem a mensagem central nem a confiabilidade geral das Escrituras. A maioria das variações textuais são insignificantes e facilmente identificáveis, como diferenças ortográficas ou ínfimos erros de transcrição.

A Bíblia é composta por 66 livros, escritos por cerca de 40 autores diferentes ao longo de mais de 1.500 anos, em diferentes contextos culturais e históricos. Mesmo assim, ela apresenta uma unidade e uma coerência impressionantes em seus ensinamentos sobre Deus, a humanidade, o pecado, e a redenção. Isso, por si só, autentica a inspiração divina unificadora por trás dos diferentes autores humanos.

Por exemplo, a profecia messiânica no Antigo Testamento é cumprida com precisão no Novo Testamento. O sofrimento e a morte do Messias, profetizados em Isaías 53:4,5, são claramente cumpridos na vida de Jesus, como vemos em Mateus 8:17 – “Assim se cumpriu o que fora dito pelo profeta Isaías: Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e carregou as nossas doenças”. A consistência e a coerência das Escrituras ao longo do tempo reforçam a sua confiabilidade e, por extensão, a sua inerrância.

Os críticos da inerrância muitas vezes apontam para passagens bíblicas que parecem contradizer-se ou que contêm dificuldades. No entanto, muitos desses problemas podem ser resolvidos com uma compreensão mais profunda do contexto histórico, cultural, e literário das passagens, ou através de um estudo mais detalhado dos textos originais.

Por exemplo, as aparentes diferenças nos relatos da ressurreição de Jesus nos quatro Evangelhos (Mateus 28, Marcos 16, Lucas 24, João 20) são frequentemente citadas como contradições. No entanto, esses relatos podem ser harmonizados quando entendemos que cada evangelista estava enfatizando diferentes aspectos do mesmo evento, com base em diferentes testemunhas oculares e perspectivas.

Outro ponto relevante é o fato de que muitos textos bíblicos são profundos e complexos. Em Hebreus 4:12, é dito: "Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração". A Bíblia não deve ser lida como um livro simples, mas como um texto que exige reflexão, meditação e estudo contínuo. Em vez de se concentrar apenas em supostos erros ou inconsistências, é mais proveitoso buscar entender o que Deus quer nos ensinar por meio de cada passagem.

É importante lembrar também que a Bíblia não é apenas um livro histórico ou literário; ela é um livro de fé, capaz de transformar vidas. Em 1 Tessalonicenses 2:13, Paulo escreve: "E por isso também, nós, sem cessar, damos graças a Deus, porque, quando recebestes a palavra de Deus, que de nós ouvistes, a recebeste não como palavra de homens, mas, como é na verdade, como a palavra de Deus, a qual também opera eficazmente em vós, os que credes". Acredite você ou não na Bíblia como Palavra de Deus, algo inegável é o impacto de sua mensagem na vida de pessoas que testemunham a transformação que experimentaram. E, ao meu ver, essa transformação é uma prova inquestionável da inspiração divina das Escrituras

 

Deus te abençoe

 

Franklin Rosa

 

Bibliografia:

• A Inerrância das Escrituras - Norman L. Geisler; William Roach

• Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual — Wayne Grudem

O Alicerce da Autoridade Bíblica - James Montgomery Boice / Via Monergismo