Tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei

        "E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho." - João 14:13

        A promessa de Jesus em João 14:11-14 frequentemente desperta reações polarizadas. De um lado, os críticos e céticos, especialmente aqueles de perspectiva secular ou ateísta, argumentam que essa passagem contém promessas inatingíveis ou exageradas. Eles apontam que a declaração "tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei" não se verifica literalmente na experiência humana, pois inúmeras orações não são atendidas. Com base nisso, alguns chegam a afirmar que Jesus mentiu ou que essa promessa demonstra a falibilidade dos textos sagrados.

        No outro extremo, estão os pregadores triunfalistas e motivacionais da teologia coach, que distorcem essa promessa ao transformá-la em um mecanismo de realização pessoal e ilimitada – um deus tipo Gênio da Lâmpada (se bem que até o gênio tinha limites). Muitos desses líderes, com milhões de seguidores nas redes sociais, pregam uma teologia centrada no homem, afirmando que qualquer desejo pode ser atendido desde que haja fé suficiente. Um deles, afirmou recentemente, interpretando equivocadamente Efésios 3:20: "Se Deus deixou você ver, deixou você tocar, deixou você sentir, deixou você abraçar, deixou você experimentar, é porque Ele tem o poder de dar nas tuas mãos muito além daquilo que você pode pensar ou imaginar."

        No entanto, essa leitura ignora que a fé bíblica não é um meio de manipular Deus, mas uma confiança submissa à Sua soberania e propósitos. A afirmação de que "se Deus permitiu que você experimentasse algo, então Ele tem o poder de concedê-lo em abundância" reflete uma visão antropocêntrica que transforma Deus em um mero fornecedor de bênçãos, sem levar em conta Seu caráter e propósito maior.

        Para entender o que Jesus quis dizer com "tudo quanto pedirdes", é importante considerar o princípio teológico da soberania e vontade de Deus. A Bíblia ensina que devemos orar de acordo com a vontade de Deus. Em 1 João 5:14, o apóstolo João esclarece: "Esta é a confiança que temos nele: que se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve." O "tudo" que Jesus menciona não é uma licença para receber qualquer coisa que desejamos, mas refere-se a tudo o que está alinhado com a vontade de Deus.

        A oração do crente não é um meio para satisfazer seus desejos pessoais, mas para alinhar nossos corações com a vontade de Deus. Jesus disse que o propósito da resposta à oração é "para que o Pai seja glorificado no Filho". Portanto, pedidos que visam a glória de Deus, e não apenas nossos interesses pessoais, são aqueles que Ele está disposto a conceder.

        Outro ponto importante a destacar aqui é que pedir "em nome de Jesus" não significa simplesmente usar essas palavras como uma fórmula mágica. Significa pedir com a autoridade e o caráter de Cristo, ou seja, pedir aquilo que Jesus pediria e que seja consistente com a sua missão e propósito.

        O que Jesus ensina nessa expressão é a importância da fé alinhada aos princípios e valores do Reino. Em vários momentos, Ele enfatiza que as respostas às orações estão atreladas à fé genuína (Marcos 11:22-24). No entanto, essa fé é uma firme e inabalável confiança na soberania e bondade de Deus, aceitando que Ele sabe o que é melhor, mesmo que isso signifique nos contrariar e que não receberemos exatamente o que pedimos.

        Diante dessas considerações, podemos entender que Jesus não mentiu quando fez a promessa, mas que suas palavras são profundamente condicionadas ao contexto da vontade de Deus, da glória divina, e da fé genuína. Quando oramos e algo não acontece da forma que pedimos, isso pode ser por algumas razões:

        1º Não estava de acordo com a vontade de Deus (Tiago 4:3)

        2º O pedido não glorificaria a Deus (Provérbios 16:2)

        3º Pode haver um propósito maior que ainda não compreendemos (Romanos 8:28)

        4º Deus pode ter um "sim", "não" ou "espere" como resposta (Salmo 37:5)

        Resumindo a polêmica, a promessa de Jesus em João 14:11-14 é verdadeira e digna de toda aceitação, mas deve ser entendida dentro do contexto mais amplo do ensino bíblico sobre a oração. Deus é fiel e responde às nossas orações, mas sempre de acordo com Sua perfeita vontade e para a Sua glória. Pedir em nome de Jesus significa estar alinhado com o Seu caráter e propósito, e confiar que Deus, em Sua infinita sabedoria, fará o que é melhor para nós e para o Seu Reino. A promessa feita não é uma garantia de que qualquer pedido egoísta será atendido, mas sim que os pedidos feitos de acordo com a vontade de Deus e em nome de Jesus serão realizados.

 

        Deus te abençoe,

 

        Franklin Rosa

 

        Texto adaptado do livro: Questionando a Bíblia Volume 1