Relativismo ou revelação? A perigosa reinterpretação cultural da Bíblia
Um contraponto à matéria do
Portal UOL sobre imposições bíblicas na vida da mulher
[O conteúdo da Bíblia influenciou valores e normas de
comportamento, especialmente em relação ao papel e à aparência das mulheres.
Para a professora Stella Christina Schrijnemaekers, da Fundação Escola de
Sociologia de São Paulo, é a interpretação ao longo dos séculos que transformou
o texto sagrado em normas de conduta. "A Bíblia, enquanto texto, não
define normas absolutas; essas normas emergem da leitura de cada sociedade
e época", observa a professora, que vê nas interpretações bíblicas um reflexo
das relações de poder de cada tempo.
Trecho da reportagem do Portal UOL Por Maurício Businari
06/12/2024 05h30: “Saia, maquiagem: igrejas usam a Bíblia para guiar aparência
de mulheres”. Leia a matéria completa no link: https://abre.ai/lDNw]
Quero me deter exclusivamente na perigosa declaração destacada
acima, em negrito, da professora Stella Christina Schrijnemaekers, que pode
gerar interpretações equivocadas, contrárias à autoridade da Bíblia, e fomentar
o liberalismo
teológico — o qual contribuiu para que a Europa começasse a naufragar
na fé no século XVIII, influenciada pelo Iluminismo. Não entrarei no
mérito da questão sobre o legalismo relacionado a usos e costumes, que podem
variar conforme as culturas e os tempos, contudo, os princípios morais e éticos da
Bíblia permanecem absolutos e imutáveis.
A
afirmação de que a Bíblia não define normas absolutas, sugerida pela professora
Stella Christina Schrijnemaekers, levanta questões fundamentais sobre a
interpretação e a aplicação dos princípios bíblicos na sociedade contemporânea.
Para a professora, o texto bíblico em si não estabelece regras definitivas,
mas, em vez disso, as normas emergem conforme as interpretações de cada época e
sociedade, refletindo as relações de poder de cada período histórico. No
entanto, uma análise teológica e bíblica mais profunda revela que, ao contrário
do que a professora sugere, a Bíblia contém princípios e normas absolutas,
válidas para todas as gerações, culturas e contextos.
A
Bíblia é clara em afirmar que seus ensinamentos não são subjetivos ou mutáveis
conforme as mudanças culturais ou sociais. No Antigo Testamento, o próprio Deus
declara que sua Palavra é eterna e imutável. Em Isaías 40:8, está escrito: "A
relva seca, a flor murcha, mas a palavra do nosso Deus permanece para
sempre." Este versículo estabelece que os princípios revelados por
Deus não são alterados por convenções culturais ou por interpretações humanas.
A Escritura não é uma mera coleção de textos sujeitos à mudança de significado
conforme as circunstâncias históricas; ela é a revelação divina e transcende o
tempo.
O
Novo Testamento reforça essa verdade ao afirmar que a Palavra de Deus é viva e
eficaz, sendo uma espada afiada, penetrante, capaz de discernir os pensamentos
e intenções do coração (Hebreus 4:12). O próprio Jesus, ao ensinar, repetidamente
se refere à autoridade das Escrituras, dizendo: "Em verdade vos digo,
até que o céu e a terra passem, nem um jota, nem um tio se omitirá da lei, sem
que tudo se cumpra" (Mateus 5:18). Aqui, Jesus não faz uma distinção
entre as interpretações ao longo do tempo, mas afirma que as Escrituras, tal
como foram dadas, são eternas e absolutas. Este princípio é fundamental para a
defesa dos valores cristãos absolutos: a Palavra de Deus, revelada na Bíblia,
estabelece normas que são universais, não variando conforme as mudanças
culturais ou as interpretações humanas.
Em
tempos em que a sensualização na forma de se vestir não se limita às mulheres,
mas também aos homens, é necessário reafirmar que os princípios de modéstia
bíblica se aplicam a ambos. A orientação para vestir-se de maneira digna e
respeitosa, encontrada em textos como 1 Timóteo 2:9-10, não está restrita ao
gênero, mas reflete um padrão de conduta moral para todos os seguidores de
Cristo. Assim como as mulheres são chamadas a demonstrar modéstia e sobriedade
em sua aparência, os homens também devem evitar roupas que promovam ostentação
ou sensualidade, demonstrando humildade e respeito tanto a Deus quanto ao
próximo.
Quando
a professora menciona que as normas de conduta surgem da leitura de cada sociedade
e época, ela está incentivando uma abordagem relativista da moralidade, que
acredita que as normas devem se ajustar às mudanças culturais e às condições
sociais. Contudo, o cristianismo, ao contrário do relativismo, sustenta a
existência de normas absolutas que são independentes da vontade humana e da
mudança social. Em 2 Timóteo 3:16-17, Paulo afirma que "toda a
Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a
correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja
perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra." A Bíblia,
então, serve como uma referência infalível para a moralidade e os princípios
cristãos, não dependendo das interpretações ou das convenções sociais do
momento.
Em
relação ao papel e à aparência das mulheres, a Bíblia ensina que tanto homens
quanto mulheres são feitos à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1:27), com
propósitos distintos, mas complementares. O papel da mulher na sociedade e na
Igreja, conforme ensinado nas Escrituras, vai além da aparência externa e das
normas culturais volúveis, sendo fundamentado em princípios divinos imutáveis.
Em Efésios 5:22-33, Paulo apresenta uma visão clara sobre o papel da mulher no
contexto do casamento, que envolve submissão ao marido, mas também destaca a
reciprocidade do respeito, amor, cuidado e proteção que o homem deve oferecer à
mulher. Esse relacionamento não é uma imposição cultural de um tempo
específico, mas reflete a ordem criada por Deus para o bom funcionamento das
famílias e da sociedade, onde cada papel tem um valor eterno e significativo.
O
papel da mulher na Bíblia abrange muito mais do que as questões de aparência ou
comportamento externo. A mulher é descrita como uma pessoa que exerce
influência significativa, sendo muitas vezes uma fonte de sabedoria, ensino e
liderança. Em Provérbios 31, por exemplo, a mulher virtuosa é elogiada não
somente pela sua habilidade de administrar sua casa, mas também pela sua
sabedoria e capacidade de contribuir para o bem-estar de sua comunidade. Ela é
uma mulher de força, caráter e integridade, cujo papel vai além da esfera
doméstica, pois sua influência e ações impactam diretamente a vida de todos ao
seu redor.
No
âmbito espiritual e social, as mulheres desempenham funções essenciais, como
evidenciado na vida de mulheres como Débora, que foi juíza e líder de Israel
(Juízes 4-5), e Priscila, no Novo Testamento que era cooperadora de Paulo e
instruiu outros em questões teológicas com seu marido Áquila (Atos 18:18,
18:26; Romanos 16:3, 1 Coríntios 16:19, 2 Timóteo 4:19). A Bíblia mostra que as
mulheres têm uma missão importante tanto no contexto familiar quanto na
comunidade de fé, com dons e talentos dados por Deus para edificar o Corpo de
Cristo.
O
papel bíblico da mulher é multifacetado e vai além da aparência ou do
comportamento superficial. Ele inclui responsabilidade, liderança, sabedoria e
cuidado, com ênfase no equilíbrio dos papéis de gênero que garantem o bem-estar
da família e da Igreja. Esse equilíbrio de responsabilidades e a valorização
das qualidades espirituais e morais da mulher são fundamentais para a harmonia
e a prosperidade dos relacionamentos e da sociedade como um todo.
Portanto,
o argumento de que a Bíblia não estabelece normas absolutas e que as
interpretações são moldadas por contextos sociais é falho à luz da revelação
bíblica. A Bíblia, de fato, oferece normas absolutas e universais, cujos
princípios transcendem as influências culturais. A moralidade e a ética cristã,
fundamentadas na Palavra de Deus, não são relativas ou mutáveis, mas refletem
os valores eternos do Criador. A defesa desses princípios é essencial para
manter a integridade da fé cristã e para garantir que os crentes vivam de
acordo com a vontade de Deus, não se ajustando às flutuações da sociedade, mas
permanecendo firmes nos ensinamentos de Cristo, que são a base de uma vida
plena e justa.
A Escritura é clara ao afirmar que Deus tem uma revelação objetiva para a humanidade, e que essa revelação deve ser seguida e aplicada como guia absoluto para o comportamento humano. Não importa a época ou a sociedade; os princípios morais e éticos de Deus permanecem inalterados e devem ser obedecidos. Isso inclui as normas sobre o comportamento e os papéis das mulheres e dos homens, bem como a moralidade e a conduta de ambos em todos os aspectos da vida.
Deus
te abençoe,
Franklin
Rosa
↘Recomendação
de leitura e pesquisa:
•
Cristianismo Puro e Simples
— C.S. Lewis
•Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual — Wayne Grudem