Culto ou Espetáculo?
Há tempos venho sendo interpelado por alguns irmãos simples e sinceros na fé que me questionam: “Será que nosso culto (não da denominação em que sirvo, mas de algumas expressões da igreja evangélica brasileira) não está virando um show?” Os que me perguntam são pessoas de coração voltado para Deus, que não estão criticando por criticar, mas sentem um constrangimento real ao ver como certas denominações têm adotado luzes, fumaça, palcos e uma produção tão sofisticada que, às vezes, parece mais uma apresentação artística do que um momento de adoração.
Faço parte de uma geração que se converteu sem a influência
massiva e pragmática das tecnologias, estética e técnicas atuais de atrativos
de culto, e talvez por isso eu entenda bem essa preocupação.
Não se trata de nostalgia espiritual nem de “crentes antigos que são avessos a
novidade”, mas de um desejo sincero por algo genuíno — a certeza de que, quando
cantamos, oramos e ouvimos a Palavra, não estamos somente assistindo a um
espetáculo, mas encontrando o próprio Deus. Já vi muitas pessoas saírem
emocionadas de um culto no domingo, mas sem transformação real de vida no
decorrer da semana, e sei o quanto isso incomoda o coração de quem ama a Deus
de verdade e anseia ver uma igreja genuína e madura na fé.
Jesus disse em João 4:23–24 que o Pai procura verdadeiros
adoradores que o adorem em espírito e em verdade. Isso significa que a adoração
não depende de um templo imponente nem de instrumentos sofisticados, mas de um
coração sincero e voltado para Deus. Paulo, escrevendo aos coríntios, explicou
que, quando nos reunimos, tudo deve acontecer “para edificação” (1 Coríntios
14:26). Ou seja, o culto não existe para impressionar ou entreter, mas para que
Cristo seja exaltado e o povo seja fortalecido.
O problema não são as luzes ou os recursos em si. Deus não proíbe
a beleza, a excelência ou a boa organização. O perigo surge quando a estética
rouba o lugar da essência, quando ficamos mais preocupados com a reação da
plateia do que com a presença de Deus. Se o culto se torna um evento para
agradar homens, ele deixa de ser altar e vira palco. Se o foco está em produzir
uma experiência sensorial, mas não em conduzir corações ao arrependimento e à
entrega, acabamos nos afastando do propósito original.
Romanos 12:1 nos lembra que o verdadeiro culto é apresentar a
nossa própria vida como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Não é sobre
como a música soa, mas sobre como o coração se rende. Não é sobre quão
impressionante está a iluminação, mas sobre se a luz de Cristo está brilhando
em nós. Um auditório lotado e emocionado não significa necessariamente quebrantamento
genuíno ou que Deus está sendo adorado; às vezes, significa apenas que a
produção e a performance foi boa.
Eu creio que Deus pode usar qualquer recurso moderno para alcançar
pessoas — mas Ele não divide Sua glória com ninguém. É possível ter um culto
simples e cheio do Espírito, assim como é possível ter um culto moderno e
igualmente cheio da presença de Deus. A diferença não está na forma, mas no
propósito. Se o nosso alvo for agradar ao Senhor e não aos homens, o culto será
verdadeiro, seja no som de um violão ou no de uma banda completa com telões e
efeitos. Mas se o alvo for aplaudir pessoas ou criar um “clima” para emocionar,
perdemos o rumo.
Talvez a pergunta certa não seja “podemos usar tecnologia no
culto?”, mas “quem está no centro de tudo isso?” Porque culto não é para
aplaudir homens — é para glorificar o Rei. Não é para criar espetáculo — é para
queimar no altar. Não é para impressionar os olhos — é para transformar
corações. Muita luz, muita música, muitas lágrimas… mas se Cristo não for o
centro, nada disso é adoração. É pirotecnia religiosa! E Deus não se impressiona
com fogo estranho; aliás, fogo estranho traz juízo (Números 16: 1-35; Isaías
1:13–14).
Com temor e tremor,
Franklin Rosa✍