Deus Além dos Códigos de Fé
Há um
ponto em que a fé madura deixa de se apegar às paredes seguras de sistemas herméticos
e se abre para o vasto oceano do mistério divino. Essa reflexão (ou devaneios
da minha mente rs) nasceu depois que assisti a um corte de vídeo do Pr. Ed René Kivitz (até então pastor presidente da IBAB) sobre o assunto (Doutrina não muda ninguém). Apesar do Ed, por vezes, soltar declarações
polêmicas, ele frequentemente toca em escrúpulos, feridas e sensibilidades que
muitos preferem evitar. Concordo
com a essência do que ele expôs naquela mensagem, e não nego que o admiro como
pensador cristão inteligente e provocador. Não quero, porém, entrar no mérito
de outras questões levantadas naquele corte de vídeo e, fora desse contexto
específico, considero importante dizer também que discordo dele em outros
pontos teológicos inegociáveis — sempre digo, em tom de brincadeira com amigos próximos, que
o Ed faz parte de uma galeria seleta dos meus “hereges favoritos”.
Isso, porém, não diminui o respeito que tenho por ele, nem a validade de refletir
sobre o tema proposto e outros assuntos espinhosos que ele costuma levantar.
Quando
Atos 2:42 diz que os primeiros cristãos “perseveravam na doutrina dos
apóstolos”, refere-se ao ensino direto transmitido por eles a partir da
revelação de Cristo — centrado no Evangelho, na vida, morte e ressurreição do
Senhor, e não em sistemas teológicos posteriores. A afirmação que essa doutrina
está distante das complexas sistematizações que elaboramos não nega sua
validade ou autoridade, mas reconhece que, com o passar dos séculos, a fé
apostólica foi organizada em estruturas doutrinárias humanas, legítimas como
instrumentos de ensino, mas inevitavelmente limitadas. O núcleo da doutrina
apostólica é vivo, relacional e cristocêntrico, enquanto nossas sistematizações
são meras tentativas de explicar essa verdade.
Desde
os primeiros séculos, homens e mulheres piedosos tentam organizar em doutrinas
e declarações aquilo que creem sobre Deus, como se o Infinito pudesse caber nas
margens estreitas de um livro de teologia. Mas, por mais sinceros que sejam
esses esforços, a verdade permanece: toda teologia é parcial; somente na
eternidade compreenderemos plenamente. O apóstolo Paulo admitiu: “Pois
conhecemos em parte, e profetizamos em parte” (1 Coríntios 13:9), e ainda acrescentou:
“Agora vemos apenas um reflexo obscuro... então veremos face a face” (1
Coríntios 13:12). A frase de Paulo é um espinho na vaidade teológica de quem
gosta de ter todas as respostas, além de ser absolutamente necessária para não
transformarmos nossas interpretações em ídolos com roupagem piedosa.
Nenhum
sistema — seja calvinista ou arminiano — é infalível, pois toda teologia é um
esforço humano para compreender um Deus que transcende nossas fórmulas. Jó,
depois de discutir com seus amigos e tentar decifrar o agir divino, finalmente
se rendeu: “Na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas demais
para mim, coisas que eu não conhecia” (Jó 42:3). Essa confissão poderia estar
na boca de qualquer teólogo sincero ao perceber que até os conceitos mais bem
estruturados falham diante da grandeza do Eterno. É possível que nossas
convicções sejam verdadeiras em parte e, ainda assim, distantes da plenitude
que só veremos no Céu.
Deus é
infinitamente maior do que qualquer doutrina sistematizada — sua mente
ultrapassa nossos esquemas teológicos. “Confia no Senhor de todo o teu coração
e não te estribes no teu próprio entendimento” (Provérbios 3:5) é mais do que
um conselho devocional; é também um desafio a abandonar a ilusão de que a
lógica humana pode se atrever a ser representante da lógica divina. Os esquemas
que construímos são como mapas simplificados: podem apontar na direção certa,
mas jamais substituem a experiência real de caminhar com o Senhor.
Há
mistérios em Deus que ultrapassam a compreensão humana — incluindo questões de
salvação e soberania. Isaías registrou a voz de Deus dizendo: “Os meus
pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus
caminhos... assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus
caminhos mais altos do que os vossos” (Isaías 55:8-9). Paulo, em adoração e
espanto, exclamou: “Ó profundidade da riqueza, da sabedoria e do conhecimento
de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos e inescrutáveis os seus caminhos!
Quem conheceu a mente do Senhor?” (Romanos 11:33-34). O mistério não é um
defeito na revelação; é uma evidência de que Deus não é produto de dissecação
da mente humana.
Reconhecer
que não sabemos tudo não é sinal de fraqueza espiritual, mas de maturidade. Há
uma arrogância sutil em querer enquadrar o Altíssimo em nossos sistemas, como
se Ele fosse obrigado a operar dentro das fronteiras que nós mesmos desenhamos.
O verdadeiro temor do Senhor inclui a humildade de aceitar que Ele é Deus — e
nós não. Talvez o maior ato de fé não seja ter todas as respostas corretas, mas
confiar plenamente em Quem é a própria Verdade, mesmo quando a lógica nos
abandona.
No fim,
quando a eternidade rasgar o véu que hoje nos limita, descobriremos que nossas
fórmulas eram apenas rabiscos infantis diante da arte perfeita do Criador. Até
lá, caminhamos com reverência, sustentados pela certeza de que Aquele que não
pode ser medido é também Aquele que, em Cristo, se fez próximo. Deus está além
dos códigos de fé, mas é no chão da fé que O encontramos. O mistério, longe de
ser um obstáculo, é o convite para O conhecermos mais — ainda que, por agora,
seja apenas “em parte”.
Sei que
alguns cristãos ligados a sistemas teológicos rígidos podem interpretar minha
postura de associação com a fala de Ed René como “relativismo” ou “liberalismo”
porque questiona o absolutismo das sistematizações teológicas. No entanto,
procurei abordar o tema mais próximo de uma teologia bíblica equilibrada
chamando a atenção para a humildade teológica que muitos autores cristãos recomendam.
Com
temor e tremor,
Franklin Rosa
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