Tempo que Consome a Alma
"Ensina-nos
a contar os nossos dias para que o nosso coração alcance sabedoria."
(Salmo 90:12 – NVI)
O tempo é um dos
recursos mais valiosos que o ser humano possui. No entanto, é também um dos
mais desperdiçados. Em muitos casos, bastam alguns segundos para que uma
simples olhada no celular se transforme em longos minutos de distração. Uma
notificação, um vídeo, uma atualização qualquer — e, quando se percebe, meia
hora ou mais já se foi.
Esse comportamento
tem se tornado comum. O acesso constante a conteúdos superficiais — mesmo que
não sejam pecaminosos — ocupa espaços que antes eram reservados à oração, à
leitura da Palavra e à meditação na presença de Deus. As redes sociais, embora
não sejam intrinsecamente más, podem se tornar instrumentos de distração quando
tomam o lugar das prioridades espirituais.
Falo isso por experiência própria. Sempre procuro usar as redes sociais como ferramenta de edificação e reflexão — tanto para mim quanto para outros —, produzindo conteúdos que comunicam a mensagem do Evangelho. No entanto, percebo que, mesmo com boa intenção, posso ser consumido pelo esforço constante de criar, responder e atualizar meu status. Em vez de dominar meu tempo, posso facilmente ser dominado por ele. Ao refletir sobre isso, me lembrei de uma frase que costumo usar com frequência em minhas preleções: produtividade não substitui intimidade. Não adianta falar de Cristo para muitos se eu mesmo não paro para ouvi-Lo.
O versículo de
Salmo 90:12, que serve de base para esta reflexão, foi escrito por Moisés — um
homem que conhecia profundamente o valor do tempo e da obediência. Esse salmo
foi composto em meio ao deserto, quando a geração que havia saído do Egito
estava morrendo sem entrar na Terra Prometida, por causa da incredulidade
(Números 14). Moisés viu milhares de vidas se apagando no pó do deserto e
reconheceu que, sem sabedoria, o tempo se esvai sem produzir fruto eterno. Sua
oração expressa um pedido sincero a Deus: que o povo aprendesse a viver com
discernimento e temor, consciente da brevidade da vida e da eternidade de Deus.
Conforme ensina
também Eclesiastes
3:1: "Para tudo há uma ocasião certa; há um tempo
certo para cada propósito debaixo do céu." A sabedoria consiste em
discernir o tempo devido para cada coisa — inclusive para buscar a Deus.
O apóstolo Paulo
adverte os cristãos: “Tenham cuidado com a maneira como vocês vivem; que
não seja como insensatos, mas como sábios, aproveitando ao máximo cada
oportunidade, porque os dias são maus” (Efésios 5:15-16). Vivemos dias
acelerados, cheios de distrações e tentações. Se não houver vigilância, as
oportunidades mais importantes — como a comunhão com o Senhor — podem ser
facilmente desperdiçadas.
O exemplo de Jesus
também é claro. Mesmo sendo o Filho de Deus, separava momentos de solitude para
orar (Marcos 1:35). Isso mostra a importância de cultivar, intencionalmente, um
tempo diário com Deus. A negligência espiritual geralmente não começa com
rebeldia, mas com distrações sutis e constantes.
O apóstolo Paulo
ainda afirma: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm”
(1 Coríntios 6:12). O uso da tecnologia e das redes pode ser legítimo e até
útil para edificação e evangelismo. No entanto, quando ela se torna dominante na
rotina, é sinal de alerta. A verdadeira liberdade está em manter o domínio
sobre todas as coisas — inclusive sobre o próprio tempo.
A Palavra de Deus,
viva e eficaz (Hebreus 4:12), só opera plenamente quando há espaço para ela. Se
o coração estiver tomado por barulho, pressa e distração, será difícil ouvir a
voz do Espírito e crescer em comunhão com o Pai.
Esta reflexão é
uma exortação à sabedoria e à reordenação das prioridades. Não faz sentido
alimentar a alma com distrações vazias, quando Deus prepara, dia após dia, um
banquete espiritual que sacia de verdade. O tempo é um presente, e deve ser
investido no que realmente tem valor eterno.
Com humildade e vigilância,
Franklin Rosa✍