O Espinho na Carne e a Graça Suficiente

    “E, para que me não exaltasse demais pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de que eu não me exalte demais; acerca do qual três vezes roguei ao Senhor que o afastasse de mim; e ele me disse: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. Por isso, de boa vontade antes me gloriarei nas minhas fraquezas, a fim de que repouse sobre mim o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco, então é que sou forte.” — (2 Coríntios 12:7-10)

    Existem dores que não partem, apenas aprendem a ficar domesticadas dentro de nós. Alguns chamam de fraqueza, de limitação, de espinho. Mas talvez sejam essas pequenas farpas da existência que nos impedem de inflar demais — lembranças de que somos pó, sustentados por algo maior do que nossas façanhas e habilidades.

    Paulo pediu três vezes para que o espinho lhe fosse tirado. Três — o número da insistência, do sagrado, da esperança repetida. Mas a resposta que veio não foi uma solução, foi uma revelação de que sua impotência seria suprida pela Presença.

    É estranho — porque esperamos de Deus alívio, e Ele nos oferece sentido. Queremos a intervenção, e Ele nos entrega ressignificação.

    O espinho é a contradição encarnada: fere e purifica. É a lembrança de que até a fé sangra um pouco antes de florescer. Penso que o milagre não seja a abolição da dor, mas o modo como ela se transforma em adoração. Aprendi que a dor que permanece pode ser também o altar onde Deus repousa.

    A graça não remove o peso, mas o torna leve de um jeito menos penoso. Ela não anestesia, mas ensina a respirar fundo entre as pontas afiadas da vida.

    A teologia do sucesso nos prometeu controle, mas o Eterno nos convida à rendição. O espinho nos devolve à nossa humanidade, à vulnerabilidade que abre espaço para o Divino. É ali, no ponto em que desistimos de provar nossa competência, que Deus se revela suficiente.

    Hoje sei que a verdadeira força não está em vencer todas as batalhas, mas em permanecer de pé mesmo ferido — sustentado por algo invisível, por uma voz que sussurra no íntimo: “A minha graça te basta.”

    O espinho continua ali — indiscreto, incômodo, misterioso — nos lembrando de que o céu cabe em nós não quando somos perfeitos, mas quando reconhecemos que a Sua boa mão é o que nos mantém inteiros, mesmo rasgados internamente.

    Com o coração compungido entre os paradoxos da fé, entendo, enfim, que a graça não muda a dor — muda o jeito de carregá-la.

 

Franklin