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Luto, Perdão e Gratidão

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Ler Luto, Perdão e Gratidão foi, para mim, mais do que conhecer uma história — foi reencontrar a alma de um amigo que conheço há tantos anos, um irmão de caminhada cuja força sempre admirei. Doutor José A. P. Ribeiro — ou Tisil para os íntimos — não escreveu apenas um livro; ele abriu o peito e deixou que cada cicatriz, cada perda, cada recomeço se transformasse em testemunho vivo. Desde as primeiras páginas, quando ele fala sobre os pais — figuras “gigantes” que formaram sua base com amor e resiliência — já reconhecemos a pessoa que sempre admirei: um homem de sentimentos profundos, palavras sinceras e sensibilidade rara. Ao contar sobre a infância difícil — dividindo roupas entre irmãos, carregando pedras e tijolos para ajudar em casa — ele nos lembra que sua história sempre foi marcada pela luta, mas também por uma dignidade que o acompanhou por toda a vida.   O livro mergulha depois em um território muito mais profundo: a dor de perder uma filha. São capítulos escritos com...

Entre o já e o ainda não

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     “Porque para mim tenho por certo que as aflições do tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada [...] Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora [...] E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo.” — (Romanos 8:18–25)      Vivemos num intervalo invisível entre o que já é e o que ainda será, um território suspenso entre o agora e o eterno. Nesse espaço tênue, o coração humano aprende a respirar em dois tempos: o da promessa e o da espera. Nos movemos como quem pisa em terra prometida e, ao mesmo tempo, como quem ainda atravessa o deserto. É a contradição sagrada de uma existência que já prova as primícias do Reino, mas ainda sente a poeira do caminho que falta percorrer.      O “já” é a semente do Divino plantada em solo humano — Cristo em nós, espera...

A Mesa de Emaús

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     “Enquanto caminhavam, Jesus se aproximou e ia com eles. Os olhos deles estavam fechados, e não o reconheceram. [...] Nós esperávamos que fosse Ele quem havia de redimir Israel. [...] Tomou o pão, abençoou-o e, partindo-o, lhes deu. Abriram-se-lhes então os olhos, e o reconheceram.” — (Lucas 24:13-32)      Venho pensando que a fé, às vezes, é um caminho envolto em neblina — não se enxerga muito à frente, mas ainda assim a gente anda, confiando que o sol, cedo ou tarde, há de surgir depois da curva. Os discípulos de Emaús conheciam bem essa sensação — caminhar com o coração cansado, arrastando esperanças mortas. Falavam sobre o Cristo, mas não O reconheciam ao lado. A promessa estava ali, mas o olhar ainda dormia.      Creio que a fé honesta é o hiato sagrado entre o que os olhos veem e o que o coração entende — o tempo que Deus usa para transformar a estrada em mesa, e a presença, em encontro onde tudo finalmente faz sentido . A ...

O Espinho na Carne e a Graça Suficiente

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     “E, para que me não exaltasse demais pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de que eu não me exalte demais; acerca do qual três vezes roguei ao Senhor que o afastasse de mim; e ele me disse: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. Por isso, de boa vontade antes me gloriarei nas minhas fraquezas, a fim de que repouse sobre mim o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco, então é que sou forte.” — (2 Coríntios 12:7-10)      Existem dores que não partem, apenas aprendem a ficar domesticadas dentro de nós. Alguns chamam de fraqueza, de limitação, de espinho. Mas talvez sejam essas pequenas farpas da existência que nos impedem de inflar demais — lembranças de que somos pó, sustentados por algo maior do que nossas f...

Espantado com o Divino

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     “Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que firmaste, que é o homem para que dele te lembres? E o filho do homem, para que o visites?”  — Salmo 8:3-4      Há dias em que caminho como quem pisa em vidro — cada passo é um cuidado, cada respiração um susto. Não porque a vida esteja perigosa   — de fato está   — , mas porque percebo o quanto ela é preciosa. O simples ato de existir me escapa pelos dedos como água limpa. E me espanta.      O divino não chega com clarins nem relâmpagos. Chega na xícara de café fumegante que alguém me oferece sem pedir nada em troca. No sorriso que brota sem motivo, no silêncio da madrugada que se enche de grilos — como se o universo respirasse ao meu lado.      Talvez por isso eu desconfie das explicações muito afiadas, das teologias que se acomodam em manuais bem diagramados. O sagrado não cabe em tabelas. Deus não é tese para ser defendida ...